You are born naked and the rest is drag. Para freqüentadores/as de casas noturnas catarinenses dirigidas ao público homossexual, o camarim sempre foi e é um território impregnado de um direito ar de mistério.1 O acesso limitado a ele supostamente sublinha o mistério que lhe é costumeiramente atribuído. Eu sabia que negociar com os donos dos bares e boates a minha entrada nos lugares “restritos ao público” seria muito árduo e insuficiente proveitoso; dessa forma, pensei que o momento do camarim poderia ser contemplado só de lado a lado das entrevistas. Imaginava que não teria acesso a essa instância privada de tornar-se drag4, sendo tomada de surpresa no momento em que, na primeira entrevista que realizei, Céia Pentelhuda me convidou pra entrevistá-la enquanto se montava.
Foi a primeira vez que vi o recurso e a primeira vez que estive num camarim de boate gay. Saí de lá convencida de que deveria tentar alcançar ver de perto mais drags se montando, que a análise e as questões acerca desse instante seriam interessantes pra que pudesse compreender os processos por que passam esses sujeitos. O acesso a camarins continuou sendo limitado, mesmo depois de as conversas com os proprietários das casas noturnas acerca de minha pesquisa.
Embora me apresentasse como pesquisadora, eu era tida antes como freqüentadora e essa segunda posição tem um enorme peso na construção da minha identidade e do que me era permitido ou não fazer em campo. Uma destas dimensões é sem dúvida aquela que se mantém mais afastada dos olhos do público: a que se passa entre as 4 paredes de um camarim, ou seja, em termos drag, “se elaborar”.
Pautada em minhas observações de campo, discordaria da autora em alguns pontos como, tendo como exemplo, o fato de declarar-se às drags como os drags.Dez Também não me parece que as drags se montem “de mulher”. O episódio de não quererem ficar parecidas com mulheres, inclusive, é apontado por elas como um aspecto que as distingue das travestis e dos transformistas.
Não são todas as drags que se transformam na sua personagem: a transformação se oferece em escalas com extenso grau de alteração entre uma drag e outra e, mesmo, entre um momento e outro em que se montam. De qualquer modo, concordo com a autora no momento em que diz que, ao se construir, a drag monta tua personagem e, acrescentaria, é a começar por uma corporalidade drag que essa protagonista pode ser representada e apresentada pro público.
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Assim, este “outro lado da performance drag” torna-se fundamental na clareza daquilo que realizam no momento em que estão “em ação”, em performance. A partir das falas das drags e daquilo que observei em campo, penso que é necessário diferenciar o que é interpretado por estes sujeitos como maquiagem e como montaria. Essa proporção não-pública da experiência drag (que assim como precisa ser apontada como apenas uma das dimensões não-públicas desta experiência) é quem sabe a mais representativa na construção de sua personagem. Talvez pudesse se dizer neste local numa espécie de ritual de passagem. Não pretendo com essa indicação rejeitar o texto, a performance e a jocosa presença drag em espaços de sociabilidade.
Argumento que a drag vai sendo desenvolvida, principalmente, dentro dos limites das 4 paredes de um camarim (que nesse lugar poderá ser considerado um espaço liminar, no qual a transformação poderá e tem que ocorrer). É nesse espaço que, em alguns casos, muda-se completamente o registro de quem se é ou, pelo menos, acentuam-se traços de uma personagem cuja apoio prontamente está presente no pirralho desmontado.